” A cidade dos mortos antecede a cidade dos vivos. Num sentido, aliás, a cidade dos mortos é a precursora, quase o núcleo, de todas as cidades vivas. A vida urbana cobre o espaço histórico entre o mais remoto campo sepulcral da aurora do homem e o cemitério final, a Necrópolis em que uma após outra civilização tem encontrado o seu fim.” [...] (MUMFORD, 1998 P.13).
A preocupação com os ritos de morte concebe simbolismos e é vislumbrada através da arquitetura por toda história, atravessando gerações – as sepulturas mais antigas conhecidas pelos homens datam de 80.000 a.C., entre os períodos paleolítico e neolítico. A necessidade de um espaço para exteriorizar os sentimentos e dar um novo lar ao indivíduo morto é de grande importância para o ser humano, como aborda PACHECO (2012): “Os cemitérios, reflexo de uma sociedade, de uma cultura, são, indubitavelmente, monumentos à memória daqueles que morreram e que os vivos fazem questão de perpetuar”. Reconhecer o cemitério como forma de monumento cultural, é também estudar e perceber como suas interpretações se dispõem através da psicologia do pós-morte. A influência de um espaço arquitetônico no processo de aceitação e superação da partida de um ente querido é de grande importância no comportamento e sensações a serem transmitidas.
“à visita a um cemitério é como uma visita a um museu”, pois especifica muito sobre o social e o cultural de um determinado grupo. A história oral trás resíduos da cultura material e auxilia na compreensão e redefinição da história local, por este motivo a história oral de uma comunidade deve ser tratada com respeito, por ser “um relato vivo do passado” (Muniz, 2006).
As arquitetura planejada aplicada nas tipologias de cemitérios abrangem análises além de estéticas e culturais, ajudando a ressaltar a transmissão de sentimento memorial de espaço-sujeito-morto relacionados a espaços verdes, caminháveis, estar e a sua integração e intenção no cenário – ele acaba assumindo um papel social complexo, como apresenta o psicólogo americano James Gibson em seu livro The ecological Approach to Visual Perception: “O contato e a percepção do espaço cemiterial, assim como as afetações e as emoções advindas dessa experiência, parecem estar conectadas ao modo como o ambiente apresentado ao visitante e ao modo como o espaço provoca interações não só com a memória do ente nele sepultado, mas também com a cosmologia do visitante.”
Com o crescimento demográfico e as transformações no desenho urbano, a necessidade de cemitérios bem estruturados e pensados nas cidades é indispensável, englobando todas as importantes análises de impacto ambiental e urbano. A observação íntima de fatores psicológicos e ritos de passagem (nos mais diversos costumes e crenças), é essencial no desenvolvimento de espaços ideais para sepultamento.
Por, Gabriela Toaldo
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